terça-feira, 29 de março de 2011

TALENTOS HUMANOS EM VEZ DE RECURSOS HUMANOS

No Brasil, a maioria absoluta das empresas sequer tem um departamento especializado em cuidar das pessoas.

Existe um discurso corrente nas organizações de que gente é o principal ativo de uma empresa. Mas, na verdade, no Brasil, a maioria absoluta sequer tem um departamento especializado em cuidar das pessoas. Nas pequenas empresas, 100% desse assunto fica a cargo do contador, aquele que cuida dos dados contábeis. Nas médias, em mais de 70% dos casos, costuma ficar a cargo do diretor administrativo-financeiro, aquele que cuida dos números e do dinheiro e, somente em grandes empresas vamos encontrar com maior frequência uma área estruturada de RH vinculada diretamente ao CEO. Dessas, poucas têm prestígio e poder à altura do significado do patrimônio humano que cuidam. Poucas conseguem participar da estratégia dos negócios ou sequer são ouvidas previamente em ações relevantes como, por exemplo, em planejamento, em avaliações ou trocas de lideranças e em fusão ou aquisição de novos negócios.
Com raras exceções, mesmo naquelas que já entenderam a necessidade de valorizar e modernizar a área de gestão de gente, o nome da área ainda se chama "recursos humanos". É assim chamada porque é desta forma que as pessoas ainda são vistas pelas organizações de um modo geral: como recursos, como tal são as máquinas, e não como seres pensantes, inteligentes que realmente fazem a diferença. Daí não é difícil concluir porque a chamada área de RH ainda é tão desprestigiada.
Como dizer que as pessoas são o ativo mais importante de uma empresa, se até a área que deveria ser a impulsionadora é ignorada? Se as pessoas são rotuladas de recursos? Isso quando não são tratadas simplesmente como "mão de obra" - classificação adequada para aqueles que têm o cérebro como um simples adorno sob um invólucro situado acima do pescoço. Considerar pessoas como "recursos" é equipará-las a todos os demais ativos de uma empresa, é colocá-las na mesma dimensão de equipamentos, materiais, processos etc. Enfim, como costuma dizer o psiquiatra organizacional Paulo Gaudêncio, é "coisificá-las".
Há várias expressões que podem demonstrar o verdadeiro valor que pessoas representam para uma empresa, entre elas, "capital humano", "valores humanos" ou, simplesmente, "gente". Não se trata de mais um modismo, ultrapassa a questão semântica, trata-se de dar significado, de elevar o pensamento sobre gente e seu valor. O que achamos mais justo é adjetivar cada pessoa como um "talento" e para distinguí-la de outras espécies animais que também têm algum tipo de inteligência, basta qualificá-la como "humano". Talento não é só sinônimo de genialidade, é também dos diversos tipos de inteligência, da capacidade de pensar, raciocinar, fazer conexões, imaginar, criar etc. Estas são competências que só a espécie humana tem em maior ou menor grau de desenvolvimento.
Assim, em vez de recursos humanos, o mais certo é chamar de "talentos humanos", tanto o conjunto de pessoas, quanto a própria área que gerencia a política humana e as relações do trabalho numa organização.
Claro que só mudar o nome não resolve, porque é preciso a prática efetiva, mas já é o começo de uma mudança de mentalidade porque levará as pessoas a procurarem entender o conceito que está por trás. Entender o conceito é o primeiro passo na construção de um significado que depois se transformará em atitudes. Como bem disse o psicólogo Bielo-Russo Lev S. Vygotsky, em "A formação social da mente", o significado medeia o pensamento humano em sua caminhada desde a infância. Como o pensamento norteia a prática, ao serem chamadas de talentos os profissionais de uma organização já começarão a se interessar pelo significado e cobrar um respeito maior por seus valores e mais coerência por parte dos seus gestores entre aquilo que discursam e o que praticam.
Cícero Domingos Penha - é vice presidente corporativo de talentos humanos do Grupo Algar
link: http://www.administradores.com.br/informe-se/administracao-e-negocios/talentos-humanos-em-vez-de-recursos-humanos/43631/

5 comentários:

  1. Esse artigo chama bastante atenção por mostrar a realidade da grande maioria das empresas. Já que, estas organizações pregam a valorização de pessoas como sendo a principal forma de sucesso das mesmas. No entanto, na prática não há uma verdadeira preocupação com o RH que quase sempre é deixado de lado. Assim como mostra o artigo as empresas nem ao menos criam um departamento específico pra tratar de pessoas. Por outro lado, a idéia inovadora de começar mudando o nome do setor já é um avanço significativo para a valorização deste e para torná-lo realmente eficaz.

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  2. O valor atribuido as atividades exercidas pelos funcionários de uma empresa deveria realmente ser exautado. O artigo acima retrata a realidade das empresas brasileiras, mostrando que os empresários sabem que o sucesso da empresa é conjunto... todos colaboram, porém acham desnecessário o investimento financeiro e inteletual nos funcionários. Tal quadro só poderá ser mudado a partir da mudança das idéias exclusivamente capitalistas da maioria.

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  3. Realmente, o artigo descreve a triste realidade das empresas de grande parte do país. Pois os empresários por desconhecimento ou até por falta de valor tratam os funcionários simplesmente como mao de obra. Deixando de lado o que eles realmente são: um dos bens mais valiosos de cada empresa. Pois estes e uma boa administração são quem diz aonde a empresa vai chegar e a que ponto a eficiência vai poder atingir.

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  4. apesar dos discursos referentes a importância das pessoas nas organizações e de que haja um setor dentro da empresa exclusivo para tratar disso, o artigo mostra que a maioria das médias e pequenas empresas não dispõem desse serviço especializado. temos que valorizar o talento, que é uma capacidade que só os seres humos possuem, e é o que diferencia o profissional hoje em dia.

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  5. É de grande relevância o fato da maioria das empresas brasileiras ainda não se organizarem de forma adequada e distribuir de forma harmoniosa os setores e percebendo a importância de implantação de RH, mesmo tendo gastos financeiros vale ressaltar que é investimento quando se trata de contração e treinamento dos funcionários além de ajudá-los a mostrar seus potenciais e habilidades. Dar oportunidade também do funcionário se sentir parte da empresa e ser notado não só como mais um e sim como a diferença no todo, que seria a empresa. Pois o funcionário percebendo que é importante desempenhar bem o papel dele dentro da empresa e que isso vai ser perceptível, aumentará ainda mais o estímulo para crescimento de ambos.

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